Comida barata no Supermercado custa caro –                                             a manipulação dos mercados pela indústria alimentar

Dados mais recentes indicam, que 50 grupos de empresas dominam 50% do mercado mundial de alimentos industrializados.

Na indústria de alimentos do século 21 competem cada vez menos empresas, desde as multinacionais da agroindústria até os fabricantes, processadores e distribuidores. Entretanto, mesmo grandes fabricantes estão baixo a pressão das grandes cadeias de supermercados, que definem os preços e os intermediarios repassam as baixas para os agricultores e as agricultoras, que são o elo mais fragil na cadeia.

Grandes fabricantes nacionais ou internacionais dominam em muitas regioes e grupos de produtos.        Fonte: http://bit.ly/2hsFaHq. Atlasmanufaktur/Heinrich-Böll-Stiftung.

 

Ao final da cadeia estão dez empresas de supermercados, que dominam 36% das vendas de alimentos industrializados. Das 100 companhias maiores, a norteamericana Wal-Mart mantem 10% do volumem de negocios: em 2011 fizeram vendas de 446,9 bilhões de dólares. No segundo lugar está a europea Carrefour, que comercializou em 2011 mais de 120 bilhões de dólares. Somente 90 empresas dominam os 64% restantes do mercado, valorado em 966 bilhões de doláres em 2007. As três megaempresas de venda ao público de comestiveis –Wal-Mart, Carrefour e Tesco– representam 50% dos ingresos das dez primeiras (ETC Group, 2008).

Mas Wal-Mart nao é somente a maior empresa de venda ao público de comestiveis, é a maior empresa do planeta, que atúa em 15 países com mais de 7.000 lojas e dos milhões de empregados, seus beneficios em 2011 eram de 15,6 mil milhões de dólares. Wal-Mart forma parte da lista mundial da Fortune 500 –ganhando dos gigantes de petróleo e da indústria automobilistica como ExxonMobil, Shell, BP e Toyota–.

O ETC Group alerta para o fato que

o poder adquisitivo da Wal-Mart é tão grande que conseguiu se impor aos fornecedores e exprimir aos produtores, para adecar os às pautas da companhia. Como declarou à Fortune um executivo da Wal-Mart: “Quando nossos fornecedores de comestivéis nos trazem artigos com preços  mais altos, simplesmente não os acceptamos” (ETC Group, 2008: 23).

Os supermercados gigantes reorganizam de cima para baixo toda a cadeia alimentar, e com o preço definem a qualidade dos produtos: não pela qualidade e o custo real. A diferença entre o que se paga ao produtor e o preço de venda ao consumidor aumenta. Na Espanha a proporção chegou em 2010, no caso das maças, a 390%, a 675% para uvas, a 705% para limões e a 576% para cebolhas. Em 2013 se pagava de media 15 centimos de euro por cada kilo de laranjas; nos supermercados europeos pode chegar a mais de três euros (BOIX, 2012).

As cadeias de supermercados forçam aos produtores a centralizarse em regiões onde é mais barato produzir frutos e vegetais específicos, ditando as normas (GRAIN, 2012). Silvia Ribeiro prevé que ao final as cadenas de supermercados comprarão a todos. Neste momento, a integração vertical (entre empresas do mesmo setor) e horizontal (entre empresas da cadeia alimentar e farmacéutica) significará o controle quasi total, desde o ‘germoplasma’ até o produtor final no supermercado (ibid).

Desde 2010, quando a crise nas bolsas finalizava, se pode observar uma onda de fusoes. Somente em 2015 foram realizadas transacoes de mais de 100 bilhoes de US-doláres, entre esses a aquisicao do produtor de quetchup Heinz pelo seu concorrente Kraft, a nova compania Kraft Heinz é o sexto maior produtor de alimentos do mundo. A compra foi possivel pela participacao da 3G Capital, conhecida pela política de severas medidas de cortar gastos, do brasileiro Jorge Lemann.

Fonte: http://www.foodprocessing.com/top100/top-100-2016/. Autores: Atlasmanufaktur/Heinrich-Böll-Stiftung.

Pela demanda dos consumidores por produtos naturais, multinacionais como General Mills, Archer Daniels Midland (ADM), Coca-Cola e Unilever compraram empresas, que produzem ingredientes naturais e aromas.

As aquisicoes no mercado de café mostram, que ao lado da generalizacao com uma gama alta de produtos também existe a especializacao em um só segmente de mercado. A JAB Holding, uma sociedade de investimentos da familia bilhonaria alema Reimann controla hoje as marcas de café Jacobs Douwe Egberts, Caribou e Keurig Green Mountain, presionando o líder do mercado Nestlé.

Por causa dos produtores regionais, o mercado mundial para alimentos industrializados ainda nao está tao concentrado como o mercado com graos, sementes ou agrotóxicos. As 50 maiores multinacionais mantém 50% do mercado, entretanto as maiores empresas estao crescendo mais.

Resumindo, a formação de carteis e redes corporativas significa um controle sem precedentes sobre os setores básicos para a sobrevivencia. Lidia Senra e seus colegas alertam, que neste processo as redes locais dos sistemas agroalimentares são aniquiladas, “que abastece(m) as maiorias empobrecidas do planeta. Entretanto  a importância e o poder dos conglomerados de alimentação barata estão em pleno auge” (SENRA, LEÓN, TENROLLER, 2009: 24-25).

Os alimentos, que chegam por preços de dumping aos supermercados, em realidade não são baratos, ao final são caros pela externalização dos custos, as subvenções e a crescente dependência do sistema corporativo global (GOLD, 2007). Como adverte Van der Ploeg, as empresas de comercialização e as cadeias de supermercados se transformaram em “imperios alimentares” que exercem um poder monopolista crescente sobre as relações que encadenam a produção, o processamento, a distribuição e o consumo de alimentos (2009).

Ao final, a indústria energética já não é mais a “mãe de todos os mercados”, o ETC Group conclui que “a balança se inclina agora a favor da cadeia alimentar agroindustrial, suas vendas chegam a 7,5 bilhões de dólares. É a indústria que submete a todas nossas  instituições públicas a uma pressão extrema e ameaça a  soberanía alimentar (2012). Entretanto, a agroindústria é responsável somente por 30% dos alimentos, mas utiliza entre 70 e 80% da tierra cultivável, mais de 80% dos combustivéis fósis e 70% da agua doce, deixando 3.400 milhões de pessoas desnutridas, famintas, obesas ou com sede (ETC Group, 2013 (2)).

Manuel Delgado Cabeza, do Departamento de Economía Aplicada da Universidade de Sevilla, está preocupado pelo controle de “um punhado cada vez mais reduzido de empresas, que controlam desde os genes até as estantes nos establecimentos de distribuição”, concentram progressivamente o poder e impõe suas estratégias (2010).

Está na hora de resistir, e a resistência inicia no carrinho de compra, fugindo dos supermercados e redescobrindo as feiras locais, aonde encontra alimentos de verdade e fortalece a economia regional e os agricultores familiares.

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