Ocorreu em Berlim entre os dias 10 e 12 de setembro o Urban farming, conferência onde encontraram-se mais de 177 representantes de universidades, de governos, ONGs e Associações de 30 países, vindos dos cinco continentes na sede da Fundação Heinrich Böll, para uma intensa troca de ideais e estratégias sobre a Agricultura Urbana (AU).

O objetivo da Conferência Internacional Urban farming foi oferecer uma plataforma para organizações internacionais, atuantes tanto no Sul Global quanto no Norte Global, para apresentarem seus projetos, entrar em diálogo e estabelecer redes profissionais entre eles. Dessa forma, pretende-se promover a importância da agricultura urbana para o desenvolvimento sustentável urbano, a segurança alimentar e a proteção do clima. Assim como o incentivo às mudanças sociais nos municípios e o fortalecimento de parcerias entre grupos atuantes no Sul e no Norte do planeta, permitindo unirem-se em suas questões comuns, e ajudarem-se com a troca de experiências.

A proposta da conferência tinha como antecedentes um estudo realizado pela Grüne Liga, promotora do evento, que mostrou o potencial de transformação social da agricultura urbana em todos os continentes, registrando protagonistas, conteúdos e estratégias.

Nos últimos anos surgiu um movimento, com raízes históricas nas culturas urbanas e rurais, que hoje se expressam tanto na agricultura de subsistência como na cultura vegana e técnico-urbana. Hoje os cidadões podem ser produtivos e produzir alimentos no bairro, no jardim ou em casa. Os autores acusam que ainda se usa os conceitos “cidade” e “campo” de forma contraria, como mundos opostos: a cidade como constelação alienada da natureza, cultural e altamente dinâmica, e o campo como a terra fertil para ser explorada, que está culturalmente estagnado. Essa dictonomia está se disolvendo na era da urbanização.

Se estima que são já 800 milhões de pessoas, que praticam agricultura urbana no mundo em diferentes contextos.

Da ocupação de espaços livres com hortas e áreas verdes surgem oportunidades para a socialização nas vizinhanças e a integração com a natureza. Os grupos interessados em ocupar algum terreno abandonado, seja público ou privado, estão ganhando mais apoio de alguns municípios e governos. Estas iniciativas são tratadas agora como estratégia de combate às mudanças climáticas, para administrar os espaços públicos a baixo custo e melhorar a integração social nas vizinhanças.

Importantes estrategias globais, em quais a AU se integra, são os objetivos de desenvolvimento sustentável (Sustainable Development Goals (SDGs), da Agroecologia, e da Segurança e Soberania Alimentar.

As diferentes formas da AU, que foram apresentados no estudo e na conferência, vão desde a criação de hortas em espaços desocupados, plantações em telhados e predios (Roof-top Farming, Water-Farming), jardins interculturais, hortas escolares, permacultura e até agroflorestas, com o plantio de árvores. Surgiram os conceitos de cidades comestíveis, cidades verdes ou produtivas, e as cidades de transição.

A realização da conferência em Berlim ofreceu a possibilidade de conhecer algumas das hortas urbanas, que se encontram na cidade.

Logo de inicio, no domingo à noite, teve uma recepção no Rosengarten (Jardim de Rosas), localizado em um parque no centro da cidade, onde se encontram imigrantes de diferentes culturas para plantar, colher e cozinhar juntos, entre de outras atividades.

Após a abertura, a conferência seguiu com a fala de Marielle Dubbeling, diretora da RUAF Foundation, (http://www.ruaf.org/) uma fundação que mantém um centro especializado em agricultura urbana e sistemas alimentares sustentáveis, localizado na Holanda. Numa parceria global com varias instituições de pesquisa, ONGs e gestões municipais, a RUAF Foundation contribui com o desenvolvimento sustentável de cidades facilitando o conhecimento, divulgação e planejamento de atividades relacionadas à Agricultura Urbana. Marielle Dubbeling reforçou a importância da diversidade da AU como oportunidade para encontrar respostas individuais aos diferentes desafios existentes.

No dia seguinte, foram realizadas visitas à hortas urbanas de Berlim, onde os presentes dividiram-se em três grupos. O primeiro grupo para visitou o Allmende Kontor, provavelmente a maior horta suspensa do mundo, localizada num antigo aeroporto da cidade, que foi desativado e agora é usado como área de lazer. Outro grupo visitou uma colônia de pequenos jardins típica de Berlin e, o terceiro grupo foi para o jardim comunitário Mörchenpark.

O primeiro dia da conferência finalizou de noite com uma confraternização no Prinzessinengarten, (Jardin das Princessas), um dos maiores e mais conhecidos projetos de Agricultura Urbana da cidade. Além da comida feita em grande parte com ingredientes das hortas urbanas, teve a apresentação de hip-hop agrário “del Aka”, do projeto Agroarte de Medellin, Colombia, que apresentou o projeto durante a conferência. Agroarte reúne a AU com arte urbana como grafite e hip-hop, e trabalha traumas nas comunidades urbanas, que sofreram com a violência.

Ao final da conferência, à tarde, tivemos a possibilidade de participar de uma visita à roça do mundo (Weltacker), parte da exposição internacional de jardinagem, que representa em 2000m² os cultivos do mundo na proporção da sua distribuição. Também no outro dia foi possível de participar de uma das duas visitas oferecidas, um que trabalha a inclusão de pessoas com necessidades especiais e outro que é dedicado a um trabalho intercultural de integração social.

Na programação da conferência teve uma série de apresentações, oficinas e visitas à alguns dos numerosos projetos de agricultura urbana existentes em Berlim.

Ao todo, 18 Projetos foram apresentados durante os dois dias de conferência no espaço aberto, onde podiam ser escolhidos dois projetos em cada sessão para assistir a apresentação e dialogar com o representante do projeto. Foram Projetos do Brasil, dos Estados Unidos, de Nairobe, de Berlim, de Bangladesh, de Bulgária, Hungria, Itália, e também da Síria.

15th Garden é um projeto de emergência, aliviando a falta de alimentos nas zonas de guerra. A pergunta essencial que se coloca aqui é devo plantar o feijão no meu quintal ou comer ele logo, antes que talvéz alguem puede colher mais rapido que eu?

A importância da AUP em regiões de conflito e fronteiras foi tratada também na mesa redonda sobre o Sul global, no qual estava além de 15th Garden o Programa de Agricultura Urbana (PAU) de Rosario, Argentina. Que a AU ajuda também a transformar conflitos foi também tema de uma oficna, na qual além de Agroarte também o projeto GUPAP de Gaza e o jardim binacional, localizado no muro que separa Tijuana em Mexico de San Diego nos Estados Unidos.

Já no Norte, os desafios são outros, o painel do Norte global tratava da parceria entre municípios e a sociedade civil na Europa, e surgem problemas como por ejemplo no Almende Kontor no antigo aeroporto, que está mudando da livre e espontânea plantação a um planejamento com hortas registradas e documentadas com fotos aéreas.

 

 

Ao todo foram realizadas 11 oficinas nos dois dias, sobre diferentes temas, e a escolha foi dificil. O Brasil estava representado na oficina sobre Cidades comestivéis, por Marcio Mattos de Mendonça, coordenador do Programa de Agricultura Urbana da AS-PTA no Rio de Janeiro. Da oficina participaram duas representantes de Todmorden, na Inglaterra, que ganhou destaque internacional com o cultivo de hortas e frutas na cidade com o projeto Incredible Edible (inacreditavel comestivel).

Numa oficina sobre segurança alimentar foi apresentado o projeto Cidades sem fome  por Hans Dieter Temp, que já viabilizou 10 hortas em São Paulo, oferecendo trabalho e renda para já mais de 100 pessoas, contando com a parceria de uma associação criada em Berlim para apoiar o projeto.

Na mesa redonda ao final da conferência, na “fishbowl”, participou Marcos José de Abreu, ativista na agricultura urbana em Florianopolis.

Em geral, os projetos contam com vários parceiros e seguem diferentes estrategias para se manter e garantir seus espaços. Os países do norte apreenderam dos países do sul o conceito da AU, e o levaram para Europa. Apesar das grandes diferenças entre o Norte e o Sul Globais, as intervenções de AU são de grande importância para as pessoas e para a melhoria da vida urbana. Enquanto a AU surge no Sul global em situações de emergência, no Norte global ajuda as pessoas a redescobrirem suas cidades.

Tecendo as redes internacionais, nacionais e locais, que estão se formando, a agricultura urbana pode ser um fator relevante para tornar as cidades mais sustentáveis. Para tanto existem diferentes redes e plataformas para se informar e participar.

Seguem alguns links.

La conferencia internacional Urban Farming 2017

RUAF – parceria global de agricultura urbana e sistemas alimentares

Apresentação do projeto Agroarte (ingles)

Pacto político de Agricultura Urbana de Milano (ingles)

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