Está a cada dia mais evidente, que o sistema econômico atual está destruindo o planeta. A economia não serve às pessoas e à sociedade, são as pessoas e a sociedade que servem à economia. Em nome de um mercado livre fictício, que de fato não existe, são cometidas atrocidades contra a inteligência humana. Já sabemos todas as soluções para resolver os problemas ambientais e sociais, más não são colocados em prática. A política e a economia servem para poucos, enquanto a desigualdade social e a injustiça ambiental cresce e a resiliencia dos ecossistemas chega aos limites.

Acreditamos, que somos vítimas das circunstâncias e dos poderosos, que somos fracos demais para enfrentar as forças maiores da economia. Mas não chegará nenhum ser iluminado para nos salvar. Nós somos criadores desse mundo, e está em nós a mudança e a transformação. 

Temos que tomar a economia nas nossas mãos. Não só como consumidores conscientes, mas como protagonistas, que procuram soluções e fazem disso um negócio rentável, ecológico e com utilidade para as pessoas e a sociedade.

 

 

 Quando a ideia vale mais que o capital

O novo empreendedorismo, no qual vale a ideia, os valores e conceitos mais que o capital, já conta com milhares de pequenos empreendimentos, os “startups”, que se profissionalizam, procuram financiamentos e se lançam ao mercado. Já não precisa saber contabilidade, administração e marketing, para poder fundar uma empresa. Para todo tipo de serviço tem programas online ou especialistas. Existem cursos e muito material para se aprofundar na matéria.

Empreendimentos também mudam a realidade no campo. Durante vários anos, ONGs e associações se concentraram em métodos de agricultura orgânica para agroecossistemas e no desenvolvimento de tecnologias sociais e adaptadas. Com o aumento da produção, começaram também a comercializar estratégias baseadas nos princípios da economia solidária e criaram mercados alternativos para a distribuição de alimentos entre as famílias. Algumas organizações não-governamentais, como a Esplar no Ceará, a Diaconia no Rio Grande do Norte ou a Assema no Maranhão, buscam novas formas de comercializar produtos orgânicos e experimentam diferentes possibilidades.

 

Abrindo novos mercados para a agricultura familiar

As redes agroecológicas recuperaram o significado original de “mercado” e criaram mercados livres não apenas em comunidades ou territórios, mas também os realizam durante suas grandes concentrações. Nessas ocasiões, os pequenos agricultores e seus clientes vendem e trocam alimentos, plantas e sementes de diferentes regiões enquanto discutem políticas e práticas.

As vendas diretas em mercados considerados “agroecológicos” são uma das oportunidades mais importantes, uma vez que permitem o contacto direto entre as mulheres agricultoras (na sua maioria mulheres vão ao mercado) e os seus clientes, a quem oferecem alimentos saudáveis.

Para potencializar experiências locais e apoiar a comercialização nos mercados locais e regionais, foram criadas redes territoriais e estaduais, como no Ceará com a rede de agricultores agroecológicos nos Vales do Curu e Aracatiaçu e a rede agroecológica do Baturite-Maciço-RAMAB, ou a rede de comercialização agroecológica de Pernambuco -RECAPE e a rede Xique Xique no Rio Grande do Norte. Além disso, há grupos de consumidores, como a Associação para o Desenvolvimento da Agricultura Orgânica (ADAO) no Ceará, que organizam feiras ou a venda de cestas.

Novos mercados estão se abrindo dessa forma, do orgânico, de produtos vegetarianos ou veganos e do fair trade estão crescendo a cada ano. Especialmente o mercado vegano, com 30 milhões de brasileiros que se declaram vegetarianos. 240 restaurantes oferecem comida vegana ou vegetariana. Isso significa também um aumento da demanda de alimentos vegetais, de preferência com selo de certificação orgânica.

A certificação para o mercado orgânico é um dos principais gargalos, que impede a venda de produtos orgânicos brasileiros no país e no exterior. Para facilitar a certificação em muitos casos é necessária uma assistência qualificada e contínua. Em alguns casos é financiada através de programas do governo federal e da cooperação internacional. Algumas das cooperativas apoiadas conseguiram dessa forma aumentar as suas vendas, especialmente no nicho do comércio justo, onde lhes é garantido um preço razoável.

Mas são poucos que recebem assistência. As instituições de ATER não têm técnicos suficientes para apoiar os pequenos grupos de agricultores e dar-lhes acesso a mercados diferenciados. Um acompanhamento adequado poderia abrir oportunidades e melhorar a renda das famílias no campo.

 

 

 

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