A alerta da Conferência mundial sobre a biodiversidade
A perda de biodiversidade com a extinção de espécies é alarmante, declararam os cientistas e diplomatas de mais de 130 países, reunidos no final de abril em Paris na Conferência mundial sobre a biodiversidade. Eles alertam, que um milhão de espécies de animais e plantas pode sumir nas próximas décadas.
Durante três anos foram avaliados os dados, e durante a conferência de uma semana foram debatidas as opções e ações políticas. “Estamos destruindo a base da nossa economia, meios de subsistência, segurança alimentar, saúde e qualidade de vida em todo o mundo”, afirma Robert Watson. Ele e os seus colegas apelam a “uma mudança profunda e sistémica nos factores técnicos, económicos e sociais, incluindo objetivos e valores”.
O relatório sobre a perda da biodiversidade não deixa dúvidas: a extinção em massa é tao – ou mais – perigosa que a mudança climática, como disse o Presidente do Conselho Mundial de Biodiversidade da ONU (IPBES), Robert Watson.
O economista Paul Hawken explica, que a perda de uma espécie significa a perda de uma biblioteca biológica. Uma coisa é a morte, mas a impossibilidade de nascimento (o fim do nascimento) é outra, pois o potencial de evolução se perde, com a redução da variedade de possíveis alternativas de organização ecológica.
A última extinção em massa aconteceu 66 milhões de anos atrás, quando um asteroide enorme alcançou a Terra. Foi responsável pelo desaparecimento dos dinossauros. A extinção das espécies, que está ocorrendo agora, é causada pelas atividades humanas. É porque estamos utilizando cada vez mais espaço e recursos, na terra e nos oceanos. Dois terços dos oceanos e 60% dos ecossistemas terrestres estão danificados. Perdemos nas últimas décadas 70% dos insetos, 60% de grandes mamíferos selvagens e de plantas.
A extinção acelerou e a taxa de desaparecimento de espécies é cerca de 100 vezes mais rápida do que sua velocidade natural. Nunca tantas espécies foram eliminadas em tão pouco tempo, muitas das quais nem sequer são conhecidas. Especialmente entre os insetos, que formam o maior grupo de animais do mundo. Foram os primeiros animais a aprender a voar. De todos os seres vivos, eles produziram a maior variedade de espécies e formas. Cerca de 1 milhão de espécies são cientificamente descritas, supõe-se que muitos milhões de espécies de insetos ainda são desconhecidas e provavelmente desaparecerão antes de serem descobertas.
Folha 2019
O cientista alemão de entomologia Andreas Segererer compara insetos com energia. O que aconteceria se não houvesse mais energia disponível? Isto levaria ao colapso da civilização. Mas não enfrentamos falta de energia, estamos frente a uma catástrofe ecológica. Os insetos têm uma função importante na natureza. “A comunidade de seres vivos forma uma rede densa e funcional na qual todos os organismos interagem, são diretas ou indiretamente dependentes uns dos outros e dependem uns dos outros. Se alguém puxa o plugue em um ponto-chave, a natureza experimenta seu apagão – e como somos parte dessa natureza, somos parte dela” (2019).
A relação íntima entre insetos e plantas floríferas é o resultado de milhões de anos de evolução comum. 90% das plantas floridas dependem da polinização. Muitas plantas aproveitam os insetos para a dispersão das suas sementes. Tambem reciclam nutrientes e servem como fonte alimentar a outros animais. Eles têm uma função importante como recicladores e regulador de fluxos de energia e nutrientes. Carcaças de animais, fezes, restos de comida ou madeira morta são eliminados por insetos. Suas fezes, por sua vez, são substrato para microrganismos. Eles arejam o solo, transferem material e transportam nutrientes.
Quando um ecosistma é desequilibrado infestam plantas doentes, incluindo monoculturas. Insetos tem, portanto, funções essenciais para os ecossistemas. Se os insectos somem, isto tem um efeito dominó. O sistema fica enfraquecido e perde a sua resiliência, com isso torna-se suscetível a perturbações. Ao final a morte de insetos e outros animais pode provocar o colapso do ecossistema. Por isso, o desaparecimento dos insetos ameaça também a sobrevivência da humanidade. E somos nos que estamos provocando a extinção de outros seres vivos, sem dar o devido valor à natureza, que nos gerou e nos mantem vivos.
A urbanização e as mudanças climáticas são fatores significativos da extinção em massa. Mas a agroindústria petroquimica é a principal causa do declínio dos insetos. O setor contribui para a perda de biodiversidade através da mudança dos habitats, a poluição por agrotóxicos, as monoculturas e o desmatamento. Além disso, a reprodução de algumas espécies adaptadas à indústria ameaça a diversidade de raças domesticadas tradicionais, com um total de 1.881 raças consideradas em risco. Especialmente o uso de agrotóxicos no combate a “pragas” mata também todos os insetos e microrganismos, que são essenciais para o ecosistema.
Mais visivel ficou recentemente no Sul do Brasil, aonde foi registrada a morte de 500 milhões de abelhas em 3 meses. Elas morreram comprovadamente por causa da aplicação de agrotóxicos nas plantações. A morte das abelhas é um fenomeno alarmante, que deveria provocar um estado de crise em todo o mundo. É um assunto que sensibiliza as pessoas. Na Alemanha foram recolhidas mais de 1 milhão de assinaturas para o plebiscito pela preservação das abelhas na Bavaria. Entretanto, o governo federal continua renovando permissões e liberando pesticidas como o Glifosato. E a empresa alema Bayer vende no Brasil agrotoxicos proibidos na Comunidade Europeia, o que é questionado pelos acionistas. Confirme aqui
No Brasil a situação também está grave. São liberados cada vez mais agrotóxicos com substâncias cada vez mais venenosas. É lógico e cientificamente comprovado, que os agrotóxicos provocam várias doencas crônicas, inclusive câncer.
Em 1.700 municípios do Brasil já foram encontrados agrótoxicos na água de consumo doméstico. Como está a situação na sua cidade pode confirmar aqui.
O agronegócio petroquímico é necrophilo e permite a morte das pessoas e dos animais, dos solos e dos oceanos, o desmatamento e a contaminação das águas– em nome do lucro.
Uma das demandas principais dos movimentos deve ser agora a exigência dos governos de abandonar o subsídio das grandes empresas agrícolas e a concentração de poder das empresas. Dinheiro público deve ser investido na promoção da agricultura ecológica baseada na agricultura familiar campesina. Essa conclusão foi feita por 500 cientistas há dez anos atras no relatório agrário mundial de 2009.
Nesse tempo pouco foi feito e ainda falta uma mobilização, mas ampla para salvar a vida – não do planeta, más da humanidade. O ativista espanhol Ramón Fernández Durán destaca a velocidade e a inconsciência coletiva com qual nos aproximamos do colapso biológico: “Porque não há debate político-social sobre o significado para o nosso futuro, e o da própria espécie, sobre o que está acontecendo, já que nossos olhos parecem não vê-lo e nossos corações e mentes não o sentem. Por agora”.
Fontes: Revista Globo Rural
0 comentários