Novo estudo “primavera silenciosa” enfatiza a necessidade da sustentabilidade na proteção de cultivos de plantas

Está tramitando na Câmara dos Deputados um projeto de lei que estabelece uma nova regulamentação para a produção, o registro, o uso, o armazenamento e o descarte de agrotóxicos no Brasil, que ganhou dos ambientalistas o apelido “PL do Veneno”.

Uma das propostas é de passar a chamar os agrotóxicos de fitossanitários e a bancada do agronegócio defende que a atual legislação brasileira é obsoleta e pode representar obstáculos ao comércio.

Más já a legislação atual garante pouca proteção aos brasileiros e ao meio ambiente, o país é o maior importador de agrotóxicos do mundo e permite o consumo de pelo menos 14 tipos de substâncias que já são proibidas nos outros países pelos riscos comprovados. Só em 2013 foram um bilhão de litros de veneno aplicados, o mercado rendeu R$ 8 bilhões para as empresas.

 

Enquanto isso, cientistas ambientais da Academia Alemã de Ciências Leopoldina em Halle emitiram um atestado pessimo à autorização, o monitoramento e o uso de pesticidas em terras agrícolas. Um grupo presidido pelo professor Andreas Schäffer da Universidade RWTH Aachen (RWTH) apresentou um relatório no qual concluem: “A prática convencional de proteção de plantas chegou a um ponto em que importantes funções do ecossistema e meios de subsistência estão em sério perigo“.

Na Alemanha, cerca de 280 substâncias ativas foram aprovadas para a proteção química de cultivos. O grupo de especialistas vê uma das principais causas do declínio dramático da biodiversidade no uso dos agrotóxicos. Nos últimos 20 anos, 75% dos insetos voadores desapareceram, inclusive abelhas. Neonicotinóides, uma classe particular de agrotóxicos, têm mostrado um impacto negativo no comportamento de polinização de abelhas e são, portanto, uma ameaça à sobrevivência da população, de acordo com pesquisadores alemães e britânicos.

Por isso, o estudo faz referência ao livro “Primavera silenciosa”, publicado pela bióloga americana Raquel Carson, em 1962, faz referência à ausencia do canto de passários pelo efeitos dos agroquímicos e alertou que dificilmente alguém pode acreditar “que é possível descarregar tal bombardeio de venenos na superfície da Terra sem torná-la inepta para toda a vida “. E como os humanos “são parte da natureza, sua guerra contra a natureza é inevitavelmente uma guerra contra eles mesmos” (CARSON 1962: 23-24).

Os efeitos dos agrotóxicos sobre a saúde humana continuam a ser negados pela indústria, uma vez que é difícil relacionar doenças a certas substâncias químicas quando elas se manifestam por um longo período de tempo, o que só permite o registro de casos agudos e mais sério. Além disso, os casos agudos nem sempre são registrados e os casos crônicos não aparecem nos sistemas de informação.

Por ano se estima, que cerca de 3 milhões de pessoas são envenenadas pelo uso de agrotóxicos e mais de 220 mil morrem; isso se traduz em 660 mortes por dia, 25 mortes por hora, sem contar com os acidentes nas fábricas. A ONU considera que o número de intoxicações pode ser até 13 vezes maior nos países do Sul do que nos países industrializados.

A biodiversidade é afetada por mais de mil substâncias e especialmente a morte das abelhas, registrada em muitos paises, é preocupante, uma vez que 42% das 57 maiores culturas mundiais dependem da polinização das abelhas. Albert Einstein já advertiu que sem abelhas ficam somente quatro anos para a humanidade.

Os cientistas alemães recomendam procedimentos de aprovação mais abrangentes para controlar melhor o impacto ambiental dos agrotóxicos. Segundo o estudo, os procedimentos atuais não refletem muitos dos efeitos ambientais no campo.

Os produtos aplicados são frequentemente identificados no solo e na água em concentrações mais altas do que declarado no processo de autorização. Portanto, os especialistas sugerem um sistema de monitoramento que permite que os efeitos a longo prazo podem ser revisados depois de um tempo limitado.

Também precisam ser avaliados os efeitos da mistura de diferentes agrotóxicos, que são aplicados em conjunto. Entretanto, essas misturas não são testadas e não se sabe como reagem entre se, nem quais são as consequências para a saúde.

Por isso o estudo recomenda que se tenham em maior consideração as práticas agrícolas e a situação ambiental real na avaliação dos riscos.

Veja o estudo em pdf (ingles).

Fontes:

http://radios.ebc.com.br/reporter-nacional/2018/06/projeto-que-muda-lei-dos-agrotoxicos-pode-ser-votado-nesta-terca-feira-na

Brasil permite consumo de 14 agrotóxicos proibidos mundialmente

 

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