Conhecimentos
Construção de conhecimentos no diálogo de saberesA construção coletiva dos conhecimentos agroecológicos
Durante séculos as ciências modernas negaram os conhecimentos das culturas indígenas e da agricultura campesina, considerados como atrasados e prognosticando que iam desaparecer com o avanço da modernização. Só em 1992 o conhecimento tradicional foi reconhecido como um dos pilares da conservação e do uso sustentável dos recursos naturais.
Falta reconhecer a “injustiça cognitiva” que para o sociólogo Boaventura de Sousa Santos fundamenta todas as outras injustiças, assim que a epistemologia agroecológica é do Sul e se propõem a resolver uma história antiga, que é a relação entre o campo e a cidade. É essa história, que está sendo reescrita a partir de uma outra visão da relação entre humanos e a terra.
A agroecologia coloca os agricultores e agricultoras como protagonistas no processo de construção do conhecimento, estabelecendo um diálogo no qual os investigadores e técnicos tentam compreender a realidade das famílias campesinas, valorizando seus saberes no manejo dos agroecossistemas locais.
Investigadores como Miguel Altieri, Stephen Gliessman e outros, estudaram o manejo de agriculturas tradicionais na América Latina e descobriram princípios que – apesar das diferenças culturais e dos agroecossistemas – podem ser aplicados de forma generalizada, como o aumento da biodiversidade, os cuidados com o solo ou a autossuficiência e independência de insumos externos.
A formação de agentes multiplicadores
O intercambio de experiências de “campesino a campesino”, que se havia perdido com a modernização do campo, foi recuperado nos anos 1980 na América Latina, dando êxito como estratégia para ampliar as práticas agroecológicas.
Baseados nessas experiências algumas ONGs promovem cursos de formação de agentes multiplicadores em agroecologia para agricultores e agricultoras, ou para extensionistas, técnicos, assistentes e estudantes, em alguns casos para os dois públicos em conjunto, o que favorece o diálogo e a cocriação dos conhecimentos.
Nesse diálogo se junta a compreensão, que os campesinos e as campesinas têm dos agroecossistemas pela sua observação e experiência, com os conhecimentos científicos, que as comprovam e as tornam aplicáveis em outras áreas e circunstâncias. Isso significa também democratizar radicalmente a ciência em base do paradigma agroecológico.
Agroecologia X
Agricultura orgânica
A agricultura orgânica segue a lógica dos mercados capitalistas e promove a exportação de mono cultivos, com elevados preços que excluem as pessoas do acesso a alimentos saudáveis e levam as famílias agrícolas a endividar-se.
A agroecologia não é compatível com a agroindústria, os cultivos transgênicos ou o sistema capitalista, ela rompe com as ciências modernas que consideram a natureza e a sociedade por separados e tem como objetivo a dominação da natureza e sua exploração, transformando os recursos naturais em valores monetários.
Na visão agroecológica não existe a separação, todo é relacionado e interconectado, e o reconhecimento da comunhão entre as pessoas e as sociedades com a Terra é uma questão de sobrevivência da civilização humana.
O paradigma científico da Agroecologia
Durante as últimas décadas foram construídas as bases epistemológicas do paradigma agroecológico no campo da complexidade. Com seu enfoque sistêmico e holístico tem os agroecossistemas como unidade de investigação. Estabelecendo um dialógo com os agricultores campesinos como protagonistas da transição agroecológica, reconhece a pluralidade dos saberes e das agriculturas.
Precisa destacar que agroecologia não é agricultura orgânica. A agroecologia não é uma tecnologia para a produção ecológica, é uma ciência que propõem um novo paradigma para o desenvolvimento de sistemas agroalimentares sustentáveis na base de uma epistemologia pluralista.
Aprender com a prática
Uma atividade importante é a sistematização das experiências agroecológicas num processo de aprendizagem coletiva.
ILEIA, o Centro de Informação sobre Agricultura Sustentável de Baixos Insumos Externos da Holanda, trabalha há vinte anos no intercambio de informações e propõem uma metodologia que inicia com a definição do ponto de partida com a delimitação da experiência, passando à descrição do que foi vivido até alcançar uma análise crítica.
Muitos registros foram publicados pela revista Leisa, documentando os avanços e desafios, contribuindo para a construção coletiva dos conhecimentos agroecológicos.