A produção agrícola foi desenvolvida principalmente por mulheres, que iniciaram os cultivos junto aos assentamentos. As campesinas continuam até hoje produzindo uma boa parte da comida nos quintais ao redor da casa. Mas seu trabalho na propriedade familiar é desvalorizado e no Brasil é considerado uma ajuda sem direito à terra ou à aposentadoria.
Fernando Lima, KAS Fortaleza 2008
Outro elemento característico desta cultura tradicional é a clara divisão do trabalho entre os gêneros, em que as mulheres cuidam da casa (trabalhos domésticos, crianças, água…) e do lote (vegetais, frutas, plantas medicinais, manejo de pequenos animais), bem como a comercialização dos produtos na comunidade e na feira. Os homens são responsáveis pelos grandes animais, pelas culturas extensivas e seus respectivos processos de comercialização. Mesmo assim, as mulheres contribuem com seu trabalho em várias fases do cultivo, particularmente em alguns dos trabalhos mais árduos, como a colheita do feijão, do milho e outras. E ao final são elas que preparam as refeições e decidem, o que se coloca na mesa.
A carta final da III ENA destaca a importância da resistência dos jovens, especialmente das mulheres, que se expressam em sua participação como sujeitos políticos e defendem o direito de acesso à terra, à educação no campo e às políticas públicas de apoio à produção e comercialização. O fortalecimento das mulheres camponesas e sua presença nos movimentos agroecológicos é fundamental, por isso elas defendem o slogan “sem feminismo não há agroecologia”.
Esse reconhecimento das mulheres camponesas como protagonistas dos sistemas agroalimentares locais é fundamental. As suas contribuições na conservação das sementes e suas atividades agrícolas são de maior utilidade humana, social e ambiental. Elas mantem o conhecimento das sementes, sobre a sua coleta, classificação, identificação de propriedades, armazenamento, qualidades alimentares e culinárias, e a complementação entre elas para prevenir doenças.
As protagonistas da soberania alimentar são, portanto, as mulheres camponesas, que tiveram seu enorme potencial e conhecimento da agricultura reconhecido pelas organizações de cooperação internacional na década de 1980. Mas elas estão ameaçadas pelas patentes sobre sementes nativas, que as corporações querem privatizar. As patentes dizem respeito principalmente às mulheres camponesas, que dependem delas para garantir a alimentação de suas famílias.
Essas questões também são destacadas como estratégia para alcançar 5 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU: erradicação da pobreza extrema e da fome, saúde e educação de qualidade e igualdade de gênero. Isso implica o empoderamento das mulheres que são as mais atingidas pela pobreza e pela fome, nas cidades e no campo.
As mulheres campesinas – invisivéis durante muito tempo – estao aparecendo cada vez mais, lutando pelos seus direitos e mostrando o valor do seu trabalho e seus conhecimentos. Juntos os movimentos da agroecologia, da soberanía alimentar e do feminismo serão mais fortes para avançar na construção de um mundo melhor, mais igualitário e pacífico.
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