Experimentamos esses dias de maio os efeitos de uma parada no transporte rodoviário, provocado pela greve dos camionistas. Em muitas localidades de repente faltaram alimentos ou foram vendidos por um preço bem mais alto.

A produção de alimentos depende no sistema agroindustrial basicamente do petróleo, que possibilitou durante os últimos duzentos anos a industrialização com a substituição da força humana por energias consideradas baratas. O petroleo tem a vantagem de ser altamente versátil e facilmente transportável, gerando muita energia, más as reservas estão chegando no limite. Marion King Hubert, geofísico americano, calculou em 1971 a produção mundial do petróleo e previu o Peak of Oil –o pico do petróleo– para 2000.

Com a descoberta de novas reservas aumentou prazo, más está previsto que as fontes acabem em 2050. Foram necessários milhões de anos para produzir as reservas fósseis de petróleo, carvão e gas, que foram consumidas em somente docentos anos. Richard Heinberg mostra nas suas publicações que a sociedade baseada na energia fóssil barata tem os dias contados e que a festa das últimas décadas acabou.

Além disso será impossivel substituir o petróleo por outras formas de energia por isso E.F. Schumacher alertava que “não existe um substituto para a energia. Todo o edifício da sociedade moderna está construído sobre ela (…). Não é simplesmente uma comodidade a mais, se não a condição previa a todas as demais, tão básica como o ar, a água e a terra” (1985). Dessa forma, a parte mais difícil de entender pode ser que o óleo não pode ser substituído em sua totalidade por outro recurso ou tecnologia, porque a tecnologia não é igual a energia e é difícil encontrar um recurso energético que tenha as mesmas características e quantidade. Lester Brown, do Worldwatch Institute, acredita que é difícil imaginar uma reestruturação setorial mais fundamental que a do setor energético, deixando petróleo, carvão e gás natural para a energia eólica, solar e geotérmica.

A situação é grave para a agroindústria, que conseguiu aumentar a produção por hectare e baratear a comida com a mecanização, mas por um preço muito alto. Hoje depende do petróleo na preparação de terras, no processamento, nos insumos petroquímicos e no transporte. Além dos altos custos de energia, a dependência de combustíveis fósseis é um risco com consequências geopolíticas para o controle das fontes de petróleo, que estão provocando conflitos sociais e guerras na luta pelas últimas reservas. Essas reservas são cada vez mais difíceis de acessar, nas selvas tropicais, nos desertos e no fundo do mar.

Sem o fornecimento de petróleo, a produção pode parar e, em vista do esgotamento das reservas, como adverte Jean Marc von der Weir, o modelo de alta dependência de combustíveis fósseis está condenado.

 

Richard Heinberg:

A festa acabou

Oleo, Guerra e a decadência das sociedades industriais

2003, Canada

Entretanto, sentir na crise da greve dos caminhoneiros o futuro que nos espera pode ter um efeito positivo. Em Juazeiro e Petrolina, na região produtora de hortigranjeiros, a exportação estava bloqueada, provocando prejuízos de 570 milhões de reais segundo a VALEXPORT. Em compensação, como relata Roberto Malvezzi (Gogó)*, estavam comendo frutas de exportação que antes nem passavam pelo mercado local, como a banana de primeira, por um preço mais barato. E quando começou a faltar de tudo nos mercados e supermercados, os hortigranjeiros vieram do interior passando de porta em porta, com galinha caipira, bode fresco, peta e ovos.

Então a lição é que precisa reconquistar a soberania alimentar, criando pomares nos quintais e hortas nas casas, ficando menos dependentes de supermercados e grandes fornecedores. Precisa abastecer primeiro a população brasileira, antes de exportar terra e água em forma de produtos como soja, milho e frutos. Precisa regionalizar a produção e dar preferência aos produtos locais e regionais, fortalecendo a agricultura familiar. Precisa investir na agricultura ecológica, diminuindo a dependência de fertilizantes e agrotóxicos em base da petroquímica.

Exemplos existem muitos, de pessoas como Marcelo Guimarães, que ao longo de 20 anos colocou em prática um protótipo que viabiliza a autonomia energética e alimentar com tecnologia social e preservação ambiental, gerando energia, produção de alimentos saudáveis sem agrotóxicos e construindo autonomia energética.**

A agroecologia e a permacultura ensinam a construção de sistemas autossuficientes, independentes de petróleo, e milhares de pessoas praticam os princípios e mostram, que esse futuro mais feliz e pacífico é possível.

* Articulista do Portal EcoDebate, com formação em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Atua na Equipe CPP/CPT do São Francisco.Membro da Equipe de Assessoria da REPAM (Rede Eclesial Pan Amazônica) www.robertomalvezzi.com.br

Veja também: https://www.ecodebate.com.br/2018/05/30/pl-do-veneno-projeto-de-lei-que-altera-lei-dos-agrotoxicos-desconsidera-impactos-na-saude-e-meio-ambiente/

**Gilvander Moreira https://www.ecodebate.com.br/2018/05/31/autonomia-energetica-e-alimentar-e-o-caminho-artigo-de-gilvander-moreira/

 

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