33.000 pessoas exigem mudanças nas políticas agrárias e um sistema agroalimentar com futuro

No dia 20 de janeiro de 2018 foram mais de 33 mil pessoas para as ruas em Berlim, Alemanha, protestando contra as políticas agrárias, exigindo reformas políticas para a criação animal, a proibição do glifosato e comida saudável para todos.

A manifestação teve na frente 160 agricultores com seus tratores e uma multidão de pessoas vestidas de abelhas, vacas ou coelhos, fazendo uso da liberdade democrática do protesto. A maioria se direcionava com apelos aos políticos nacionais, à Uniao Européia, e também mostrando solidaridade com os campesinos, que são expulsos das suas terras em vários países, presos, torturados e assassinados.

O evento foi organizado por 55 organizações de diversas áreas, como da agricultura, da proteção do clima, do meio ambiente, de animais e de consumidores, como também dos movimentos para um comércio justo global. Declararam sua solidariedade com seus colegas na luta pela soberania alimentar e um comércio justo, pelo direito do acesso à terra, água, sementes e educação.

Declaração política entregue para 69 ministros agrários 

Com a manifestação, que se realiza anualmente desde 2011, em protesto a oitava edição da maior feira internacional de agroindústrias chamada de “semana verde”, o objetivo do protesto é mostrar, que os jovens são importantes na agricultura para o desenvolvimento e a estabilidade nas regiões rurais, que os agricultores estão dispostos a enfrentar os novos desafios para uma agricultura mais sustentável e que precisam de políticas claras para viabilizar as mudanças.

Pela manhã entregaram uma declaração política para os ministros agrários de todo o mundo, exigindo o final da orientação para a exportação, que é fatal para os países, como também a limitação da concentração de terras, que está ameaçando os agricultores familiares em nível mundial, também na Europa. Os ministros estavam na mesma manhã na conferência em Berlim, no âmbito da feira internacional da agroindústria, chamada “semana verde”.

Eles não têm dúvidas, que os responsáveis políticos enfrentam grandes desafios num mundo com guerras, fome, pobreza e mudanças climáticas, que provocam a migração de milhões de pessoas, que fogem por desespero e ameaças à vida. Para tanto precisam enfrentar o poder das empresas e construir um mundo para todas as pessoas e não somente para poucas.

Pecuária é tema da conferência dos ministros agrários

O tema da conferência internacional dos ministros agrários foi esse ano a pecuária, na qual se enfrentam as visões contrarias sobre o futuro da agricultura. Por um lado, os defensores da produção industrial de animais com milhares de animais confinados, com todas as consequências sociais e ecológicas, do outro lado os que defendem os direitos dos animais a uma vida digna e lutam por melhores condições nas fábricas e para os pequenos agricultores e sua economia de subsistência.

Por isso os manifestantes exigem:

– Políticas internacionais e financiamentos para mudar a criação de animais, com a proteção de pastos e dos pequenos agricultores.

– A limitação da concentração de poder das corporações, que ameaçam o direito à alimentação e o desenvolvimento sustentável do campo,

– O direito dos países do Sul de proteger seus produtos locais e regionais de importações de produtos baratos a preços dumping,

– O fim das estratégias agressivas de exportação que devem ser substituídas por estratégias globais de qualidade, que respeitam os critérios de proteção do meio ambiente e da saúde, tanto como a garantia dos direitos humanos,

– A redução da produção de soja para a criação industrial de animais, com a proteção do clima, da água, do solo e das florestas tropicais,

– A proibição do uso de antibióticos na criação de animais, que ameaçam os sistemas de saúde humana.

No final declaram, que nunca foi tão importante como hoje de oferecer à juventude uma perspectiva para a vida no campo, seja na África, na Ásia, na América Latina ou na Europa. Precisa de financiamentos para juventude rural, que garante o futuro do planeta.

Ministros afirmam o crecimento da produção animal como objetivo

Enquanto isso, os ministros agrários de 69 países, entre esses o ministro brasileiro de agricultura, pecuária e abastecimento Blairo Maggi, confirmam no documento final a necessidade de implementar o plano de ação global contra as resistências aos antibióticos, mas afirmaram que o setor de produção animal deve ainda crescer mais por causa da fome crônica de mais de 815 milhões de pessoas, e que precisa tomar medidas para garantir o aumento da produção de forma sustentável. Ainda declararam, que o setor seria a base de existência para 1,3 bilhões de pessoas, criando renda e emprego, promovendo o desenvolvimento rural. Dessa forma negam, que é justamente o aumento da produção de carne que causa fome, pobreza e desemprego pela expulsão dos agricultores de suas terras para o cultivo de rações.

As contribuições da pecuária para as mudanças climáticas, calculados pela FAO em 14,5%, são admitidos, como também o fato, que essas mudanças podem causar prejuízos para a criação animal. Medidas seriam a melhoria da eficiência para diminuir as emissões, inclusive a proteção de ecossistemas e da biodiversidade, o que fica difícil com as pretensões de aumentar a produção ainda em 20%.

Já Blairo Maggi quer aumentar a participação do Brasil no mercado internacional dos atuais 6 a 10%, seria quase dobrando as exportações, que já consomem grande parte dos solos, da água e das florestas do território nacional. Por enquanto as mudanças acontecem somente no vocabulário, adaptado às demandas da sociedade, mas as políticas seguem a favor do agronegócio.

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